Continuidade, Sucessão e Crescimento
A G3 conversou com James Maida, presidente e CEO da Gaming Laboratories International (GLI), na G2E Las Vegas, após a confirmação de que a empresa de private equity CVC Capital Partners adquiriu uma participação majoritária na empresa. Maida explica o que a transação significa para a equipe de 1,700 pessoas da GLI, seus parceiros reguladores e fornecedores, e para sua própria liderança, à medida que a empresa entra em sua próxima fase de crescimento institucional.
James, esta é a primeira vez que a GLI recebe um investidor externo desde sua fundação em 1989. Você pode nos contar como você e o cofundador Paul Magno chegaram a essa decisão?
Paul e eu fundamos a GLI há 36 anos, apenas nós dois. Nunca pegamos um empréstimo bancário, nunca tivemos investidores externos e sempre administramos a empresa de forma conservadora, sem opções de ações, sem acionistas externos, apenas nós e nossa equipe.
O que mudou agora é que chegamos a um ponto em que a GLI é uma instituição verdadeiramente global, com 1,700 funcionários, operações em quase todos os continentes, e temos a responsabilidade de garantir que a empresa sobreviva aos seus fundadores. Esta transação com a CVC nos permite institucionalizar a GLI a longo prazo. Trata-se de continuidade, sucessão e crescimento.
Estamos vendendo uma participação majoritária, mas Paul e eu continuaremos sendo acionistas relevantes. Continuarei como Presidente e CEO, e as operações do dia a dia não sofrerão alterações para nossos funcionários, órgãos reguladores ou clientes. Se houver alguma mudança, é porque cometemos algum erro.
Como você selecionou a CVC como sua parceira e o que ela traz para a GLI?
Passamos por um processo de 14 meses, começando com 52 potenciais parceiros e reduzindo a lista a um só. A CVC se destacou por ser uma das maiores e mais respeitadas empresas de private equity do mundo.
O que eles trazem é a capacidade de nos ajudar a crescer de maneiras que não conseguíamos antes. Sempre fomos livres de dívidas e avessos ao risco. Se quiséssemos fazer uma aquisição de US$ 50 a 100 milhões, isso significaria usar nosso próprio dinheiro. Com o apoio da CVC, podemos buscar oportunidades maiores, dentro e fora do setor de jogos, mantendo os mesmos princípios.
A CVC tem escritórios em todo o mundo, em Hong Kong, Austrália e Londres, então é como ter um parceiro com presença física onde quer que precisemos. E, igualmente importante, eles trazem uma perspectiva nova. Quando você administra um conselho de duas pessoas por 35 anos, pode acabar caindo em uma bolha. A CVC traz experiência, capital e desafios construtivos. Mas eles não estão nos comprando para consertar nada, estamos tendo anos recordes. Eles estão investindo porque acreditam no que construímos e querem nos ajudar a crescer globalmente.
Você enfatizou que essa mudança não significa que você está se afastando. Mas será que ela representa o início de um plano de sucessão a longo prazo?
Com certeza. Qualquer líder responsável precisa pensar na sucessão. Há anos que Paul e eu não viajamos no mesmo avião, tamanha a seriedade com que encaramos a continuidade. Somos responsáveis por 1,700 funcionários e suas famílias, além dos órgãos reguladores que dependem da estabilidade da GLI.
Em algum momento haverá uma transição. Eventualmente, assumirei o cargo de Presidente do Conselho, mas não há um cronograma definido. Permanecerei como CEO enquanto estiver me dedicando 110%. Quando isso mudar, selecionaremos o próximo líder em conjunto com a CVC, e será alguém da indústria de jogos que entenda este ecossistema. Mas não se enganem: não estou me aposentando. Vocês ainda me verão em todos os principais eventos. Meu papel é garantir que a GLI continue operando com o mesmo alto padrão, independentemente de quem estiver na cadeira de CEO.
Em termos práticos, o que a parceria com a CVC permitirá que a GLI faça que não podia antes?
Isso nos proporciona escala e flexibilidade. Agora podemos financiar aquisições estratégicas ou investir em tecnologias emergentes, como cibersegurança, pagamentos ou testes baseados em IA, sem sobrecarregar a empresa com dívidas. Também nos dá acesso a infraestrutura e redes globais. A CVC opera em mais de 40 mercados, portanto, se estivermos expandindo na Ásia-Pacífico ou na Europa, temos acesso imediato a pessoas e conhecimento especializado nesses locais.
Mais importante ainda, eles nos dão a capacidade de crescer sem alterar nossa essência. A CVC não administra a empresa, eu administro. O papel deles é nos ajudar a tornar uma ótima empresa ainda mais forte.
Você falou sobre institucionalizar a GLI. O que isso significa na prática?
Isso significa que a GLI não deve depender de James Maida ou Paul Magno. Pense na Home Depot ou no HSBC: a maioria das pessoas não sabe quem é o CEO, mas sabe que a instituição é sólida. É para lá que estamos caminhando.
Queremos que todos os funcionários, desde a pessoa que se junta à empresa hoje até o regulador em outra parte do mundo, saibam que a GLI estará aqui daqui a 30 anos. Trata-se de construir sistemas, governança e cultura que garantam a continuidade.
Somos uma parte fundamental do ecossistema de jogos; não apenas testamos jogos, como também assessoramos praticamente todos os órgãos reguladores do planeta. Essa função traz consigo a responsabilidade de sermos permanentes, estáveis e confiáveis.
De que forma esse investimento influencia seus planos para novos mercados, como o Brasil?
O Brasil é um ótimo exemplo. Trabalhamos com os órgãos reguladores brasileiros por quase 15 anos, nos preparando para este momento, e quando o mercado finalmente abriu, a demanda foi enorme. Para atendê-la, contratamos 270 novos funcionários para a área de entregas entre agosto de 2024 e maio de 2025, concluindo a expansão antes do prazo. Isso eleva nosso quadro de funcionários para cerca de 1,700 pessoas no mundo todo.
Estamos agora em fase de integração, treinando os novos contratados e avaliando a demanda para 2026. Se precisarmos de mais 100 ou 200 pessoas, contrataremos. O objetivo é sempre o mesmo: entregar no prazo, dentro do orçamento e com a mais alta qualidade. Isso é inegociável.
Você mencionou pontos inegociáveis. Quais aspectos da cultura da GLI você está determinado a preservar durante essa transição?
Em primeiro lugar, nossa cultura prioriza a família. Se seu filho tem um jogo de futebol às 4h, você vai assistir. Confiamos que nossos funcionários compensarão o tempo perdido, porque a família vem em primeiro lugar. Essa cultura gera lealdade; se você está na GLI há cinco anos, há 90% de chance de você ficar por 25.
Em segundo lugar, integridade. Nunca negociamos o cumprimento das normas. Testamos rigorosamente a regulamentação: sem atalhos, sem fazer vista grossa. É por isso que os reguladores confiam em nós.
Em terceiro lugar, a transparência. Quando apresentamos um preço, esse é o preço final. Não voltamos depois pedindo mais. E cumprimos o que prometemos. O sucesso de uma empresa é medido pela pior experiência que ela proporciona ao cliente. Mantemos esse foco há 36 anos, e é por isso que ainda lideramos o mercado hoje.
Por fim, o que você vê olhando para o futuro daqui a 10 anos? Como será a GLI daqui a dez anos?
A GLI continuará sendo a referência global em definição de padrões, desenvolvendo, assessorando e testando as tecnologias que moldam o futuro dos jogos. Há dez anos, 60% do nosso trabalho era presencial; hoje, mais da metade é digital. Daqui a uma década, estaremos testando tecnologias que a indústria ainda nem imaginou: inteligência artificial, integração de criptomoedas, novas formas de entretenimento interativo.
Nossa equipe será maior, nosso alcance mais amplo e nossos relacionamentos com os órgãos reguladores ainda mais sólidos. A constante será a confiança. A GLI continuará sendo a instituição na qual este setor pode confiar, independentemente do que a próxima onda de inovação traga.
